História completa das Assembléia de Deus. Uma homenagem ao centenário desta denominação.
Continuidade da História completa das Assembleias de Deus e do movimento Pentecostal no Brasil.
- Na continuidade dos cultos na casa daquela irmã, cujo nome era Celina Martins Albuquerque (1874-1969), ela começou a buscar o batismo com o Espírito Santo. Numa quinta-feira, no dia 8 de junho de 1911, depois do culto, Celina Albuquerque continuou orando em sua casa, juntamente com outra irmã, cujo nome era Maria de Nazaré Cordeiro de Araújo.
A uma hora da madrugada, a irmã Celina começou a falar em novas línguas, o que fez durante duas horas, sendo a primeira pessoa batizada com o Espírito Santo em terras brasileiras.
Irmã Celina Albuquerque, a primeira pessoa a ser batizada com o Espírito Santo em terras brasileiras.
- A irmã Nazaré, no dia seguinte, foi contar aos membros da igreja batista o que havia acontecido. Ela e outras irmãs vieram para o culto de oração e, naquela mesma noite, 9 de junho de 1911, uma sexta-feira, a irmã Nazaré também foi batizada com o Espírito Santo e ainda cantou um hino espiritual.
Naquele culto, os que ali estavam creram que aquilo era obra de Deus, menos um evangelista e a mulher de um diácono. Este evangelista, inclusive, passou a ter um comportamento estranho e, no domingo, na igreja, percebeu-se que ele estava diferente. Tratava-se de Raimundo Nobre, tio de Adriano Nobre.
- No dia 13 de junho de 1911, uma terça-feira, ocorreu um culto extraordinário, convocado por Raimundo Nobre que, ilegitimamente, passou a comandar a reunião, não deixando sequer o pastor Erik Nillson falasse.
Nesta reunião, foi dito que não se poderia permitir a pregação da mensagem do batismo com o Espírito Santo. Entretanto, dezoito irmãos disseram que criam no batismo com o Espírito Santo e que, ao contrário do que era ali pregado, não se tratava de algo reservado apenas para os dias apostólicos, pois os irmãos estavam experimentando a realidade da cura divina e do revestimento de poder.
Diante do impasse criado, o pastor disse que os missionários não mais poderiam morar em sua casa e que os que quisessem segui-los deveriam abandonar a igreja.
- Os dezoito crentes, então, resolveram deixar a igreja batista e os missionários, então,deixaram aquela casa e passaram a realizar cultos nas casas dos irmãos, passando a realizar cultos na casa da irmã Celina Albuquerque, onde passaram a morar, na rua Siqueira Mendes, 67.
Eis os nomes dos primeiros crentes pentecostais do Brasil (na reunião, havia 18 crentes, mas dois que não estavam na reunião resolveram acompanhar os demais): José Plácido da Costa e sua esposa Maria Piedade da Costa, Alberta Mendes Garcia (esposa de Adriano P. Nobre); Antônio Mendes Garcia; Joaquim da Silva e Benvinda Saraiva da Silva (esposa); Henrique Albuquerque e Celina Albuquerque (esposa); Emilia Dias Rodrigues; Manoel Maria Rodrigues e Jezusa Dias Rodrigues (esposa); Joana Dias Dominguez; João Dias Dominguez e Raimunda Dominguez (esposa); José Batista de Carvalho e Maria José Pinto de Carvalho (esposa); Josina Galvão Batista; Manoel Dias Rodrigues; Maria Joana Soares e Maria de Nazaré Cordeiro de Araújo. Gunnar Vingren foi aclamado pastor da novel igreja e Daniel Berg seu auxiliar, com a responsabilidade pela colportagem, mister que tanto o apaixonava.
Os filhos menores que acompanharam esses crentes foram: Anna Victória da Silva e Izabel Leonísia da Silva (filhas de Benvinda); João Dominguez Filho (filho João Dias Dominguez); Prazeres da Costa (filha de Maria Piedade da Costa) e Tereza Silva de Jesus (filha de Joaquim da Silva).
- Em 18 de junho de 1911, Gunnar Vingren e Daniel Berg organizaram juridicamente a nova igreja, dando-lhe o nome de “Missão da Fé Apostólica”, o mesmo nome da igreja que havia sido fundada por William Seymour, em 1906, na rua Azusa, em Los Angeles. Nasciam, assim, as Assembleias de Deus no Brasil.
- Logo naqueles dias, Jesus batizou o primeiro homem com o Espírito Santo em terras brasileiras, o irmão Manoel Francisco Dubu, que era paraibano. Ele foi a quarta pessoa batizada com o Espírito Santo, pois, antes dele, também foi batizada a irmã Isabel L. da Silva. Foi batizado nas águas e continuou em Belém até 17 de dezembro de 1914, quando, então, retornou para a Paraíba, onde foi o primeiro evangelista a divulgar a mensagem pentecostal naquele Estado.
Somente em 1935, Manoel foi levado ao presbitério pelo pastor Cícero Canuto de Lima, servindo muitos anos na Assembleia de Deus em Campina Grande/PB.
Manoel Francisco Dubu, a quarta pessoa e o primeiro homem a ser batizado com o Espírito Santo em terras brasileiras.
- O trabalho começou árduo. O pastor batista, ao saber da criação da nova igreja, espalhou um folheto acusando os missionários de traição e falsidade e aconselhando os crentes a não se aproximarem deles, espalhando-o por toda Belém, inclusive com várias citações bíblicas mencionadas pelos missionários.
O folheto teve efeito inverso: ao invés de afugentarem os crentes, contribuiu para que se despertasse o interesse pela pregação de Gunnar e de Daniel e, como conseqüência, os cultos estavam sempre repletos de pessoas. Jesus começou a curar enfermos e muitos se rendiam aos pés do Senhor, além de continuar a batizar os crentes com o Espírito Santo. Algum tempo depois, realizou-se o primeiro batismo nas águas, no lamacento rio Guamá.
- Em 13 de novembro 1911, quando resolveram fazer um batismo, os novos crentes passaram por momentos de grande perigo.
Nesta ocasião, uma multidão de inimigos do Evangelho dirigiu-se até o local do batismo armados de facas e laços para impedir o batismo. O líder deles carregava uma cruz. Vingren procurou ler a Bíblia, mas foi impedido.
Tentou ler outra vez, mas o líder empunhou uma faca e se preparou para lançar-se contra Vingren. Porém, neste momento, a irmã Celina, a primeira a ter sido batizada com o Espírito Santo, interpôs-se entre aquele homem e o missionário.
Outro homem do grupo, então, gritou e disse que deixassem que os crentes realizassem a sua cerimônia e, apesar de toda aquela oposição, pois o líder do grupo persistiu no intento de impedir o ato, o batismo foi realizado e ninguém conseguiu impedir que os três novos convertidos descessem às águas, ainda que sobre os gritos da multidão que clamavam “miseráveis, comida de tigres, matem o missionário!”.
- Após o batismo, dirigidos pelo Espírito Santo, em vez de trocarem de roupa, os batizados e o missionário, com as roupas molhadas, passaram pelo meio da multidão que, boquiaberta e apanhada de surpresa, deixaram-nos ir, juntamente com os crentes, de volta para a cidade.
- Com a chegada do primeiro pacote de Bíblias e Novos Testamentos vindos dos Estados Unidos, Daniel deixou seu emprego na fundição e passou a se dedicar à colportagem, ou seja, à atividade de ir de porta em porta apresentando literatura religiosa (no caso, Bíblias e Novos Testamentos), ao mesmo tempo em que se prega a Palavra de Deus.
A expressão vem do francês “colportor”, que significa “levar no pescoço”, pois eram assim que os pregadores valdenses, na Idade Média, levavam os escritos sagrados, debaixo da roupa ou numa bolsa que pendia do pescoço.
OBS: Os valdenses, como vimos na lição anterior, foram crentes surgidos num avivamento na França, a partir de 1173, que creram na Bíblia como única regra de fé e prática, como também apenas no batismo nas águas e na ceia do Senhor como ordenanças válidas, abandonando os “sacramentos” da Igreja Romana, havendo notícia de que houve, neste movimento, a manifestação do batismo com o Espírito Santo. A Igreja Evangélica Valdense existe até hoje, tendo, principalmente, fiéis no norte da Itália, onde se refugiaram em virtude das perseguições.
- Daniel começou o trabalho de colportagem em Belém e o Senhor foi confirmando este trabalho com novas conversões. Ao mesmo tempo, Gunnar, que dirigia a igreja, prosseguia pregando a Palavra, fazendo cultos domiciliares e no salão na casa dos irmãos Henrique e Celina Albuquerque, e Jesus continuava a salvar, curar e a batizar com o Espírito Santo. Em 22 de outubro de 1911, Gunnar Vingren foi até Soure, na ilha de Marajó, onde realizou alguns cultos e muitos se renderam aos pés do Senhor, sendo que, em 1º de novembro, uma irmã foi batizada com o Espírito Santo, abrindo-lhe ali um novo campo de trabalho.
- Impulsionado pelo Espírito Santo, Daniel, então, após orar ao Senhor, com a aquiescência de Gunnar, passou a evangelizar às margens da estrada de ferro Belém-Bragança, ampliando o trabalho evangelístico pelo estado do Pará, percorrendo a pé um caminho de 400 km.
Gunnar Vingren também não ficava apenas em Belém, realizando freqüentemente viagens para localidades no Pará, onde também o Senhor operava grandemente. Em Tajapuru, local onde os missionários haviam feito aquela viagem com Adriano Nobre e onde quarenta crentes haviam ali ficado, Jesus também começou a batizar com o Espírito Santo.
- Durante estas viagens, ambos os missionários foram acometidos de enfermidades tropicais. Vingren, por exemplo, foi acometido de beribéri, indo se tratar numa localidade chamada Mosqueiro, onde, além da doença, teve de enfrentar cruel perseguição, inclusive apedrejando a casa onde estava hospedado.
Não contentes, os inimigos do Evangelho resolveram queimar a casa onde Vingren estava e ele teve de sair dali e se escondido na selva, engatinhando, tão fraco estava por causa da doença. No mato, encontrou uma casa onde foi dormir. Apesar de os inimigos do Evangelho estarem com cães de caça para seguirem o missionário a fim de matá-lo, não conseguiram encontrá-lo. Vingren, então, voltou para Belém e foi para a cama com uma febre altíssima.
Depois de quatro dias, os irmãos foram orar pelo seu pastor e ele foi completamente curado, sem precisar tomar qualquer remédio ou ter ido a qualquer médico.
OBS: “O beribéri é uma doença provocada pela falta de vitamina B1 no organismo, o que provoca fraqueza muscular e dificuldades respiratórias.
Uma de suas causas: o fungo Penicillium citreonigrum, que através da liberação da toxina citreoviridina inibe sua absorção. Outras enzimas, encontradas em peixes de rio, também podem causar deficiência de B1.
A doença pode afetar o coração, dando origem a uma cardiomiopatia por deficiência nutricional chamada de beribéri cardíaco. A cura da doença se dá pela administração da vitamina B1, corrigindo assim a sua carência. São alimentos ricos em tiamina: cereais em grão, leite, legumes, ovos, peixes e plantas e na redução da ingestão do álcool, já que este dificulta a absorção da vitamina. O beribéri é um tipo específico de polineurite.
No tratamento desta doença, vemos a importância de uma intervenção fisioterapêutica cardiorrespiratória, já que o paciente apresenta dificuldades respiratórias devido a alterações musculares, levando o indivíduo a um grande encurtamento muscular que ainda acarreta grandes dificuldades de deambulação e realização das atividades da vida diária.
- Daniel Berg, por sua vez, em uma de suas incursões pela selva, apanhou malária e teve de comunicar seu estado a Gunnar Vingren, que se encontrava em Belém, mas foi até Bragança onde recebeu o companheiro na estrada de ferro e, durante toda a viagem de trem, amparou-o. Daniel foi, então, levado a Belém para a casa de Vingren, onde os irmãos iam visitá-lo e pediam que o Senhor o curasse, mas, apesar das orações, a enfermidade não era curada.
Depois de alguns dias, o Senhor ordenou que Daniel fosse ao culto à noite e, apesar de enfermo e fraco, o missionário obedeceu à ordem do Senhor.
Os irmãos se admiraram que Daniel estivesse no culto e, nesse culto, Daniel orou por enfermos, que foram curados, mas ele, não. Retornando para casa, o missionário passou a noite em oração pedindo que o Senhor o curasse, o que ocorreu, tendo, então, Daniel retornado às suas viagens.
- O trabalho prosseguiu, sendo levantados outros evangelistas além dos missionários, tanto brasileiros quanto suecos. Entre os brasileiros, destacaram-se Crispiniano Fernando de Melo e Clímaco Bueno Aza. Entre os suecos, o primeiro a chegar foi Otto Nelson (1881-1982) que, também tendo emigrado para os Estados Unidos, sentiu a chamada para o Brasil em 1914, vindo com sua esposa, Adina Peterson.
Em 1916, Samuel Nyström (1891-1960), ao ouvir a pregação de Daniel Berg na igreja Filadélfia em Estocolmo, para onde Daniel fora contar do trabalho no Brasil, sentiu forte chamada divina para a missão, tendo sido separado com sua mulher Lina, para a missão em 5 de junho de 1916, mesma data em que ambos se casaram, chegando ao Brasil em 18 de agosto de 1916.
Viktor Jansson foi outro que veio para o Brasil, em 1921, tendo morrido de uma febre terrível enquanto evangelizava nas ilhas do Pará em 1923.
OBS: Daniel Berg voltou à Suécia em 1920 e lá se casou com Sara Julho, retornando logo depois para o Brasil.
- Em Guatipurá, lugar evangelizado por Daniel Berg, houve um dos mais impressionantes episódios de perseguição.
Os crentes foram espancados até correr sangue e depois foram levados para a prisão. Na prisão, os crentes passaram a orar e a louvar a Deus e o povo se reuniu na frente da cadeia para escutá-los.
Um dos crentes foi batizado com o Espírito Santo e um dos soldados trouxe alimento para eles. As autoridades, então, concluíram que não valia a pena manter os crentes presos e os soltaram dizendo que “eles tinham uma religião que eles não tinham nem entendiam”.
- Também em Guatipurá, o Senhor livrou Daniel Berg de uma cilada que os inimigos do Evangelho lhe armaram no caminho.
Daniel, sem saber de nada, tomou outro caminho e, desta maneira, recebeu livramento da parte do Senhor. Enfurecidos, os inimigos do Evangelho atacaram os crentes do lugar, arrombaram as portas das casas e agrediram os membros da igreja.
Daniel levou os feridos até as autoridades em Bragança, mas elas se limitaram a dizer que todos tiveram sorte em não terem morrido, percebendo, então, o missionário que estavam do lado dos perseguidores, mas, a partir daquele dia, as autoridades não mais importunaram os crentes.
- Entretanto, dois rapazes começaram a perturbar diariamente os cultos que ali se realizavam, a ponto de se ter de interromper um dos cultos para que falassem com eles, mas eles se mantiveram irredutíveis e, numa destas vezes, quando tomaram um barco, fingindo sair com o desejo de depois retornar para perturbar ainda mais o culto. Entretanto, quando entraram no barco, acabaram caindo na água e foram devorados por jacarés e piranhas e isto gerou temor na localidade, cessando a perseguição.
III – A EXPANSÃO DO EVANGELHO PENTECOSTAL PELO BRASIL
- A irmã Maria de Nazaré, a segunda pessoa batizada com o Espírito Santo na igreja em Belém, sentiu a direção de Deus de viajar para o estado do Ceará em 1914. Após quatro dias de viagem de navio, chegou à casa de seus parentes e testificou de Jesus para eles, mas não foi bem recebida.
Entretanto, alguns crentes presbiterianos ouviram suas palavras e aceitaram o seu testemunho sobre o batismo com o Espírito Santo e, mais tarde, o Senhor enviou para lá o irmão Adriano Nobre (aquele mesmo que convidara os missionários para a viagem em dezembro de 1911), ocasião em que muitos foram ali batizados nas águas e com o Espírito Santo.
Nesse mesmo ano, quando Gunnar Vingren foi até lá, encontrou duas igrejas, uma com 70 membros e outra, com 40, frutos da semente que a irmã Maria de Nazaré plantara.
- Um lavrador no Pará, também membro da Igreja, chamado Joaquim Batista de Macedo, também recebeu revelação de Deus para ir ao Nordeste, para os estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, testificando de Jesus por todos estes lugares. Quando retornou da viagem, contou seu testemunho de como Jesus começou a salvar, curar e a batizar com o Espírito Santo.
- Em 1912, Gunnar Vingren consagrou o primeiro pastor brasileiro, o irmão Isidoro Filho, que foi colocado na direção da igreja em Soure e, no início de 1913, o irmão Absalão Piano também foi separado para o pastorado e passou a dirigir a igreja em Tajapuru. Como Paulo e Barnabé, Gunnar e Daniel não tinham qualquer preocupação em criar “impérios eclesiásticos”, separando obreiros para cuidarem das igrejas que iam se formando.
- Entre 1911 e 1914, segundo estatística do diário de Gunnar Vingren, no Pará, foram batizadas nas águas 384 pessoas e, destas, 276 receberam a promessa do Espírito Santo, num trabalho crescente (em 1911, foram 13 batizados nas águas e 4, com o Espírito Santo; em 1912, 41 batizados nas águas e 15, com o Espírito Santo; e 1913, 140 batizados nas águas e 121, com o Espírito Santo e em 1914, 190 batizados nas águas e 136, com o Espírito Santo).
- Um século depois, por que as Assembléias de Deus não tem, como naqueles quatro primeiros anos, 71,875% dos crentes batizados com o Espírito Santo? A resposta é simples: o diário de Gunnar e o livro de Daniel mostram que, naquele tempo, os crentes não cessavam de cultuar a Deus.
Quando acabavam os cultos nos templos, os crentes se reuniam em casas para realizar cultos de oração e, também, não cessavam de testificar de Jesus. O resultado de uma vida de consagração e de evangelização trazia muitas curas, batismos com o Espírito Santo e diversas manifestações dos dons espirituais. É este, por acaso, o quadro que vemos em nossas igrejas atualmente? Jesus não mudou, mas, infelizmente, a mudança está nos crentes. Voltemos aos primórdios da nossa história!
- É importante observar que, no ano de 1914, em vários cultos, no início do ano, o Senhor usou irmãos que profetizaram sobre o período difícil que viria sobre a humanidade e, realmente, foi o ano que se iniciou a Primeira Guerra Mundial, que somente terminaria em 1918.
- Em 1915, Gunnar Vingren viajou novamente para o Nordeste do Brasil, tendo ido até Alagoas, em Maceió, que não havia ainda recebido a pregação do evangelho pentecostal. Gunnar chegou ali em 1º de maio, indo a um culto na casa do irmão Simplício, onde estavam presentes nove crentes, no local conhecido como Trapiche da Barra. À tarde, Gunnar orou por uma irmã que estava enferma e ela foi curada imediatamente.
Os cultos continuaram, mas o irmão Simplício, que era adventista, não quis abandonar a doutrina dos adventistas e, por isso, os cultos passaram a ser realizados na casa do irmão Candinho, que foi batizado com o Espírito Santo no dia 28 de maio de 1915.
- Formou-se, assim, um núcleo de crentes pentecostais, anteriormente batistas e adventistas, tendo Gunnar Vingren deixado Maceió em 13 de julho de 1915. Alguns meses depois, chegou a Maceió o missionário Otto Nelson, que passou a cuidar da obra de Deus em Alagoas.
- Gunnar Vingren, então, após cinco anos de intenso trabalho missionário, resolveu descansar e foi para a Suécia, partindo primeiramente para os Estados Unidos, onde chegou em 8 de agosto de 1915, ali permanecendo até dezembro de 1915, não cessando de pregar e testificar da obra de Deus no Brasil em vários lugares.
- De partida para a Suécia, seu navio foi preso pelos ingleses, pois se estava em plena Primeira Guerra Mundial e levados todos para a Escócia, onde ficaram três dias e depois foram liberados. Chegando a sua casa, onde passou o Natal, recebeu a visita dos pastores Lewi Pethrus (o amigo de infância de Daniel Berg) e Alfred Gustavsson, tendo passado o ano novo na igreja Filadélfia, em Estocolmo.
- Após pregar em diversas igrejas na Suécia, onde Jesus curou e batizou com o Espírito Santo. Antes de voltar para o Brasil, Gunnar Vingren conheceu a enfermeira Frida Strandberg, a mesma que havia sido revelada em profecia mais de seis anos antes, membro da igreja Filadélfia que sentira forte chamada missionária para o Brasil. Frida foi batizada nas águas no dia 24 de janeiro de 1917 na igreja Filadélfia e, pouco depois, foi batizada com o Espírito Santo e acabou acompanhando Gunnar Vingren quando este voltou para o Brasil em 12 de março de 1917, via Estados Unidos.
- Nos Estados Unidos, Vingren visitou diversas igrejas e pregou em vários lugares. Em 12 de junho de 1917, Frida Strandberg viajou para Belém, sozinha, pois Gunnar não tinha conseguido arrumar sua documentação, o que fez somente em 21 de julho de 1917, chegando a Belém em 6 de agosto de 1917. Algum tempo depois, foi consagrado o irmão Adriano Nobre.
- Em 11 de janeiro de 1918, a igreja mudou de nome, passando-se a se chamar “Sociedade Assembleia de Deus”, a mesma denominação que os pentecostais haviam adotado nos Estados Unidos desde 1914. Algum tempo depois, passou a ser chamada de Igreja Evangélica Assembleia de Deus.
- Em 17 de setembro de 1917, a igreja concordou em comprar um local próprio, onde havia uma casa, onde foram morar os missionários. Em 6 de outubro de 1917, foi imprimido o primeiro hinário da igreja, com 194 hinos. Em 16 de outubro de 1917, Gunnar e Frida se casaram e, dois dias depois, Samuel Nyström e sua esposa Lina se mudaram para Manaus, no estado do Amazonas, onde foram pastorear a igreja formada pelo trabalho do irmão Severino Moreno de Araújo, membro da igreja de Belém que retornara a sua terra natal naquele mesmo ano de 1917.
- Este fenômeno de irmãos que deixavam Belém e retornavam a suas terras natais, levando a mensagem pentecostal era outra manifestação da Providência Divina. Os missionários Gunnar Vingren e Daniel Berg haviam chegado a Belém, em 1910, no final do chamado “ciclo da borracha”, que viveu seu auge entre 1879 a 1912 e que foi a grande responsável pelo desenvolvimento da região amazônica. Com o declínio da produção de borracha, muitos resolveram voltar a suas terras natais e os crentes que haviam sido alcançados pelo evangelho pentecostal, ao retornarem para seus locais de nascimento, levavam a mensagem que Jesus salva, cura e batiza com o Espírito Santo.
- Vemos, assim, repetir-se no Brasil o que já acontecera com os crentes anônimos cíprios e cirenenses que, deixando suas terras natais e indo para Antioquia, foram os primeiros a pregar o Evangelho para os gentios naquela que era a capital da província da Síria, gerando, então, a primeira igreja totalmente gentílica entre os cristãos, para onde foi mandado Barnabé (At.11:19-24).
Vemos, pois, claramente que Deus não muda (Ml.3:6) e que, como descrito está nas Escrituras, também promoveu o crescimento da obra de Deus em nosso país. Hoje em dia, em que muitos se preocupam com “métodos de crescimento de igrejas”, que tal voltarmos para a realidade bíblica, que foi da evangelização pessoal, mediante uma vida de consagração e de busca a Deus, para voltarmos a ter conversões, curas divinas, batismos com o Espírito Santo e manifestação dos dons espirituais?
BS: Por isso, muito oportunos dois tópicos da feliz campanha para mudar a Igreja, defendida pelo pastor Geremias do Couto, que aqui transcrevemos: “9. Pare de promover eventos evangelísticos, mas faça com que a igreja encarne a paixão pelas almas e passe a empregar o velho (mas sempre novo) evangelismo pessoal como meio de alcançar os perdidos para Cristo. Uma boa maneira é estimular a cada um para que se comprometa a orar, fazer amizade e convidar os seus parentes, amigos e vizinhos com regularidade para que assistam os cultos e ouçam a Palavra de Deus, Não é preciso ir longe. O campo está perto de cada crente. Saiba que 99% das pessoas que frequentam a igreja, hoje, foram trazidas por alguém e não por um “programa”. 10. Valorize os cultos nos lares, de maneira sistemática, sem se preocupar com nomenclatura. A igreja primitiva se reunia no templo e nas casas e a maioria absoluta das igrejas existentes tiveram início em reuniões familiares.…” (COUTO, Geremias do.
Uma campanha para mudar a igreja. 27 jun. 2010. Disponível em: http://geremiasdocouto.blogspot.com/2010/06/uma-campanha-para-mudar-igreja.htmlAcesso em 19 abr. 2011).
- Outro destes irmãos que deixaram Belém e foram porta-vozes do evangelho pentecostal foi o cearense Cordulino Teixeira Bastos que, deixando o Pará em 1915, foi morar na ilha de Maracá, próximo ao rio na fazenda Altamira de propriedade do Sr. Antonio Pinheiro Galvão, local onde muitos aceitaram Jesus como seu Salvador, lugar que hoje faz parte do estado deRoraima. Cordulino morreu em 1925 e, durante 21 anos, os irmãos continuaram a se reunir nas casas, até que, em 1946, a igreja de Belém do Pará mandou para lá o pastor Quirino Pereira Peres, que organizou a igreja juridicamente em 28 de agosto de 1948.
- Foi também o caso da igreja em Rondônia. O trabalho evangelístico em “Porto do Velho”, então pertencente ao estado do Amazonas, em 1922, quando o irmão José Marcelino da Silva saiu de Belém para lá.
Ali, a pregação de José Marcelino rendeu preciosos frutos. Ainda em 1922, o missionário norte-americano Paul John Aenis, depois de conviver alguns dias com Daniel Berg e Gunnar Vingren em Belém, foi dirigido pelo Espírito Santo para Porto Velho, onde, juntamente com José Marcelino, organizou a primeira igreja naquele pedaço do Amazonas que, depois, se tornaria o território federal e, posteriormente, o estado de Rondônia.
- Em 1916, Adriano Nobre, ainda um evangelista, foi enviado pela igreja de Belém para Recife, no estado de Pernambuco, onde, após realizar cultos em casas, acabou por fazer reuniões na casa dos irmãos João e Felipa Ribeiro, na rua Velha, 27, no bairro de Boa Vista. No início de 1917, batizou dois crentes nas águas em Caipeberibe/PE, um dos quais, a irmã Luli Ramos foi a primeira pernambucana a ser batizada com o Espírito Santo. Adriano Nobre ficou em Recife até 20 de outubro de 1918, quando entregou a igreja ao missionário sueco Joel Carlson, que tinha vindo da Suécia especificamente para trabalhar em Pernambuco.
- Ainda em 1916, o irmão Clímaco Bueno Aza, que era colombiano de nascimento e se destacara na evangelização no Pará juntamente com Daniel Berg, foi o pioneiro da evangelização em Macapá, local então ainda pertencente ao Pará e que veio a se tornar território federal e, depois, estado do Amapá. Era, então, apenas um evangelista, tendo sido consagrado ao pastorado em 10 de março de 1918.
- Clímaco Bueno Aza, ainda, seria o responsável pelo início da pregação do evangelho pentecostal no estado do Maranhão, para onde foi em 1921, quando iniciou o trabalho em São Luís. Em 15 de janeiro de 1922, foi oficialmente implantada a igreja no Maranhão e, pouco depois, Clímaco, a exemplo do que fizeram tanto os apóstolos quanto os missionários, entregou a igreja aos cuidados do pastor Manoel de Jesus da Penha e prosseguiu o seu exitoso ministério evangelístico.
- Em 1927, depois de ter se mudado para o Rio de Janeiro para auxiliar Gunnar Vingren em 1925, após ter realizado evangelismo no estado do Rio de Janeiro, mudou-se para Belo Horizonte, onde, também, deu início à pregação do evangelho pentecostal em Minas Gerais, inaugurando a primeira igreja na capital mineira em 15 de janeiro de 1929, igreja que pastoreou até 2 de agosto de 1931, quando entregou a igreja ao missionário sueco Nils Katsberg, transferindo-se para Juiz de Fora/MG, onde abriu mais uma igreja.
Em 1934, chegou a pastorear a igreja em Santos/SP e, de 1937 a 1939, pastoreou a igreja em Natal/RN, tendo, então, ido dirigir a igreja em Curitiba/PR, onde ficou até fins de 1942. Recebido pela igreja em Petrópolis/RJ, ainda pastoreou as igrejas de Belford Roxo/RJ e Ponta Grossa/PR, tendo partido para o Senhor em 20 de setembro de 1950.
(Continua na 3ª parte)
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